segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cidade limpa: não precisa ser tão complicado.

Ontem eu presenciei uma cena aqui próximo de minha casa, para mim, ainda inédita.

Era último dia de aula das crianças e adolescentes que frequentam a única escola da cidade antes de um curto período de férias da primavera. A última atividade proporcionada pela escola foi justamente a cena com a qual me deparei: adolescentes (acredito que deviam ter uns 12 ou 13 anos) vestidos com coletes alaranjados com refletores e distribuídos em pequenos grupos estavam alocados em diferentes pontos da cidade para recolher o pouco lixo que havia na rua, na beira da estrada e nas praças.


By Michelangelo-36 (Own work) [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html), CC-BY-SA-3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/) or CC-BY-2.5 (http://creativecommons.org/licenses/by/2.5)], via Wikimedia Commons


Cada um com um saquinho na mão, ajudando a limpar a cidade em que sua família vive.

Foi interessante observar como agiam. Um cuidava da segurança do grupo, fazendo sinal para os carros diminuírem a velocidade; outros animados, competindo com os colegas para ver quem pegava mais lixo; em outros notava-se uma certa cara de indignação.

E foi essa cara de indignação que me chamou a atenção. Não era indignação por ter que fazer aquela atividade. Seus olhos diziam: "Por que alguém joga uma garrafa plástica AQUI???".

Uma atividade tão simples que pode trazer ao adolescente de hoje a noção de certo e errado, de respeito pelas áreas públicas, de lixo no lixo, de consciência coletiva.

Notem que quando comecei a descrever a cena, mencionei "pouco lixo". Sim, o lixo nas ruas aqui é pouco. Uma latinha de Red Bull aqui, uma garrafinha d'água lá longe... Vejo agora porque aqui não se tem garis e as ruas são limpas: os moradores aprendem desde cedo as implicações do lixo no lugar errado.

Fazer um adolescente pegar um saquinho e catar o lixo da rua o faz pensar naquele copinho que ele jogou sem que ninguém visse, o faz vigilante em casa e com os amigos.

Moro na Suiça, um país rico, de primeiro mundo, que oferece uma qualidade de vida invejável. A limpeza de áreas públicas e a consciência da população sobre o descarte correto de seus resíduos são fatores que pesam para essa classificação. Mas vejam como não é preciso ser um país rico para dar essa lição - na prática - para crianças e adolescentes. Basta dedicar poucas horas do ano letivo à atividade semelhante.

Às vezes, enquanto esperamos grandes verbas do governo para grandes mudanças, não enxergamos que com medidas simples e baratas podemos ter um efeito eficaz e duradouro.

Agora saia na rua e observe o lixo jogado nos cantos. Pense no trabalho que dará para recolhê-lo. Pense em quem fará isso. E pense sempre nisso quando você for jogar sua bituca de cigarro, seu chicle ou seu copinho descartável disfarçadamente no chão.